Há pessoas que têm a capacidade de inspirar meio mundo! A Ana Pêgo, criadora do projeto Plasticus maritimus, é uma delas. 

A Ana – uma pessoa tão disponível, simpática e gentil – respondeu a perguntaspara o blog Vida ECOnsciente!

Usufrui desta entrevista, a uma das pioneiras e figuras de referência deste tipo de movimentos em Portugal!

Sem dúvida que és um exemplo para muitas pessoas e que o teu trabalho é uma referência na área da sustentabilidade. 

Para quem ainda não conhece o Plasticus maritimus, como o descreverias?  

Plasticus maritimus começou por ser apenas uma página no Facebook para mostrar os objectos que eu encontrava na praia. Agora, chamo-lhe um “projecto” de educação ambiental porque uso várias formas para educar/ informar crianças e adultos sobre a questão dos plásticos nos oceanos … e neste caso específico, mostrar-lhes que, para o nosso bem, é urgente mudar comportamentos. Para além das fotografias que partilho nas redes sociais, faço oficinas e palestras para todas as idades e também tenho feito exposições. Recentemente, tive a sorte de editar um livro que é uma excelente forma de chegar ainda a mais pessoas.

“Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”, já dizia Pessoa!

Que impacto verificas que o teu projeto tem alcançado? 

Tenho levado este projecto quase como missão de vida. Sentia que era urgente avisar toda a gente que os nosso hábitos de consumo estavam a ter consequências muito negativas no ambiente. Agora, acho que muitas pessoas começaram (finalmente!) a ver o que eu via e fico muito feliz por saber que estão dispostas a mudar. Posso ter sido das primeiras (em Portugal) mas não sou a única nesta luta. Felizmente, agora há muita gente a lutar pelas mesmas coisas e a voz de todos é que tem criado mudanças. Estamos no bom caminho mas ainda muito longe do mínimo aceitável. Estamos numa fase muito básica da desplastificação onde se marcam prazos de anos para banir produtos que não nos fazem falta nenhuma. Quanto tempo levará, então, para banirmos, ou reduzirmos drasticamente, aqueles produtos de plástico que nos fazem mesmo falta? 

O teu livro “Plasticus maritimus” é simplesmente brilhante! Terá sido pensado para miúdos, mas é também super importante que os graúdos o leiam!

Consideras a educação ambiental uma das medidas fulcrais para alcançarmos uma mudança global?  

Primeiro, parece-me importante referir que a educação ambiental não deve ser apenas para as crianças. É urgente educar/informar os adultos. O pior é, muitas vezes, chegar até eles! Fico feliz por saber que miúdos e graúdos têm gostado do livro. O livro foi uma sorte incrível. Tive o convite da editora Planeta Tangerina e escrevi o livro com a Isabel Minhós Martins. Não podia estar em melhores mãos. O livro, para além de lindo com as ilustrações do Bernardo P. Carvalho, tem muita informação útil e que está acessível a qualquer um. Sem dramatismos, nem radicalismos, fala-se do problema dos plásticos incentivando as pessoas a sair da sua zona de conforto … Quando as pessoas estão bem informadas, têm um consumo mais consciente. E por muito insignificantes que possam parecer, as nossas pequenas mudanças/escolhas diárias, elas levam a uma a pressão a nível empresarial e politico.

Imagina este cenário 100% utópico: a partir de hoje todo o tipo de indústria e ações poluentes vão ser definitivamente interrompidas e convertidas para um modo de funcionamento totalmente ecológico!

Todos os danos que já causámos ao meio ambiente seriam reversíveis? Já existe algum tipo de solução para os microplásticos que já estão em circulação nos nossos oceanos?  

Não, infelizmente há muita coisa que já não dá para reverter. Relativamente aos microplásticos que já estão no ambiente, parece-me quase impossível conseguir fazer alguma coisa … são demasiado pequenos para os conseguirmos retirar do ambiente. Contudo, há muita coisa que podemos fazer para minimizar o problema. Acho que ainda vamos a tempo de impedir que os objectos plásticos que andam por aí se degradem em microplásticos. Podemos travar a produção de plástico descartáveis, investir em limpezas, fazer uma boa gestão de resíduos,

Se por um lado existem notícias alarmantes sobre o estado da Natureza, também existem novidades que nos dão esperança.

Como imaginas o nosso planeta daqui por 20 anos?  

O planeta está numa fase muito má, mas tão má que isso até “pode ser bom”. Pode ser a nossa única salvação. Tento explicar o que quero dizer com isto …

O planeta está numa fase mesmo muito má. Está a chegar ao limite … já aguenta mais. Poluição a todos os níveis e em todos os ecossistemas! Espécies a extinguirem-se à velocidade da luz, a loucura da indústria, a exploração de gás e petróleo, a má gestão de todos os resíduos, os poluentes que entram no mar vindo dos esgotos urbanos e industriais ou deitados directamente nos campos, rios e mares … alterações climáticas, o degelo, subida do nível da água, a desflorestação

Assim, temos mesmo que fazer alguma coisa!! Mas as pessoas começam a perceber que têm que fazer alguma coisa. Temos tido greves e manifestações em todo o mundo… pelo clima, pelos animais, contra exploração de petróleo e gás, contra a sobrepesca e pesca ilegal, contra indústrias descaradamente poluentes…As pessoas estão a mexer-se e a fazer com que os governos se mexam também. 

Relativamente ao plástico: estamos em plena revolução dos plásticos. Todos os dias há noticias sobre: novos materiais; sobre novos objectos feitos com plástico reciclados; sobre seres que digerem plástico; máquinas que limpam o plástico dos oceanos. E há cada vez mais países a banir descartáveis. Assim, há esperança. Quero acreditar que daqui a 20 anos, tenhamos conseguido reverter alguns dos parâmetros actuais.

Sem dúvida que a mudança passa por uma tomada de consciência! E dos processos individuais, naturalmente passamos para os processos coletivos! 

Se queres melhorar alguma coisa no mundo, começa por ti mesmo. Que os passos sejam pequenos, mas que sejam dados! 

Por último, expresso a minha profunda gratidão à Ana Pêgo pelo valioso contributo do Plasticus maritimus! Que bom que existem projetos assim!


Texto e edição: Filipa Gouveia

Fotografia: Ana Pêgo

Por uma Vida ECOnsciente,
Filipa Gouveia